28 nov 24
Em novembro de 2023, realizou-se em Shanghai a Conferência Mundial sobre Estudos da China. O evento foi organizado pelo Gabinete de Informação do Conselho de Estado da China e pelo Governo Municipal de Shanghai, com apoio da Academia de Ciências Sociais de Shanghai em parceria com o Ministério da Cultura e Turismo da China, da Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS), da Universidade de Pequim, da Universidade de Tsinghua e da Universidade Fudan. Na ocasião, foi anunciada a fundação da World Association for China Studies (WACS) na qual tenho a honra de estar entre os seus fundadores.
Participei do painel dedicado ao tema “Modernização Chinesa e o Caminho da China”. O pano de fundo é o fato de a China, em poucas décadas, ter deixado de ser apenas a “fábrica do mundo” para se tornar, também, um centro de inovação e tecnologia, além de ter erradicado a extrema pobreza no país. Investimentos significativos em pesquisa impulsionaram avanços em áreas como inteligência artificial, energia renovável e engenharia espacial. Houve um exitoso processo de urbanização e melhorias nas zonas rurais com incremento das infraestruturas locais e regionais. Simultaneamente, registram-se progressos significativos na saúde e na educação, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas. As conquistas e contribuições da China abrangem ainda a promoção do seu patrimônio cultural e intelectual como recursos valiosos não só para os chineses, mas para a humanidade. A China vive um momento de florescimento cultural inegável e este fato também é expressão do caminho chinês de modernização.
Devido aos investimentos chineses no exterior e o fato de ser o primeiro parceiro comercial de mais de uma centena de países, o interesse pela modernização chinesa só tem aumentado mundo afora. É o caso da América Latina. Cada vez mais latino-americanos querem entender um pouco melhor a China. O professor Guo Cunhai, amigo intelectual chinês, publicou artigo na China Hoy sobre a evolução da sinologia na América Latina.
28 nov 24
China has developed a systemic, holistic and global foreign policy. This is due to several factors. First, China’s significant participation in the world economy requires the country to have a broad and multidimensional vision of its international presence. Second, its responsibilities as a permanent member of the UN Security Council position it as an essential actor for the stability of the international order.
The world we live in today was unimaginable after the end of the Cold War. At the beginning of the 21st century, the war on terror followed by the US invasion of Iraq, with NATO support and without the Security Council’s consent, was a sign that the institutional foundations of the post-World War II international order were showing very exposed cracks. The current conflict between Russia and Ukraine, with the US increasingly participating in authorizing Ukraine to use long-range missiles against Russia, could, if it escalates further, deal a heavy blow to the UN. The humanitarian crisis in Gaza and the West’s complacent silence leave no doubt that private interests are prevailing over the interests of humanity. The crisis is not just one of multilateral diplomacy; it is one of leadership and values.
In this scenario, China’s increasing commitment to peace is a vector of stability for the international order and hope for the world. China’s mediation in the historic reconciliation between Iran and Saudi Arabia in March 2023, as well as the recent resolutions reached on issues concerning the border area between China and India, are examples of a foreign policy committed to peaceful conflict resolution and the elimination of tensions in the management of differences with other countries. China is increasingly becoming a credible force in defending peace.
President Xi proposed the Global Security Initiative (GSI) on April 21, 2022, with humanity’s future, security and well-being in mind, which reinforces China’s commitment to a stable world.
24 nov 24
Neste artigo para a Folha de São Paulo, Nelson de Sá explora o tema do pensamento de Xi Jinping. Quem estuda a governança da China contemporânea não tem como ignorar este assunto. Sou grato ao Nelson de Sá por ter contribuído com a matéria dele e, mais ainda, por ele ter mencionado que meu livro “CHINA: TRADIÇÃO E MODERNIDADE NA GOVERNANÇA DO PAÍS” será publicado neste mês de novembro de 2024.
“O livro, diz ele, aborda a China de hoje como reflexo de sua própria história, em contraste com as perspectivas ocidentais do país. As ideias de Xi são analisadas “procurando construir a linha de governança da China a partir dela mesma”.
Muito obrigado, Nelson!
O artigo foi publicado no dia 17.11.2024.
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2024/11/o-que-e-afinal-o-pensamento-de-xi-jinping-entenda-ideias-do-lider-chines.shtml
24 nov 24
O debate sobre a relação da política externa brasileira com a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) permanece em aberto. O Brasil propôs uma “sinergia” entre os seus programas de desenvolvimento e a BRI. Uma proposta que é percebida pelo lado brasileiro como a mais adequada para não parecer estar subordinando a sua política externa àquela de seu maior parceiro comercial.
A “sinergia” poderia ganhar contornos maiores se envolvesse a participação conjunta na decisão e execução daqueles projetos na América do Sul que estão sendo apresentados pelo governo chinês como iniciativas dentro do guarda-chuva da BRI. O Brasil poderia propor um forum sobre a BRI na América do Sul a fim de discutir com todos como tais projetos de infraestrutura e outros poderiam favorecer a formação de uma comunidade latinoamericana de nações (em atenção ao que estabelece a nossa Constituição Federal). Mas, ao optar por ficar de fora da nova rota da seda, perde-se um argumento relevante para tal pretensão na ação de política externa brasileira na sua relação com a China.
Com esta breve reflexão explico melhor o meu comentário para esta matéria do Vinicius Neder para O Globo (clique aqui).
“Carvalho considera um erro olhar para a BRI apenas pela ótica do financiamento à infraestrutura. Para ele, o Brasil poderia atuar como coordenador regional, na América do Sul ou na comunidade de países de língua portuguesa, dos investimentos chineses”.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/11/22/vale-a-pena-o-brasil-ficar-de-fora-da-nova-rota-da-seda.ghtml
(foto: Freepik)
14 nov 24
中国人民的实践和智慧影响着中国的组织方式。从这个角度来看,我认为中国正在逐步形成“有社会主义特色的中国治理”。“社会主义”,成为对中国21世纪治理模式的限定词。如果时间证实了这一观点,我们将面临一个事实:从现在起,这可能会改变关于中国、改变社会主义以及对这个国家在国际体系中角色的讨论和思考的进程。
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今年对于巴西与中国关系来说是非常特殊的一年。近几个月,有大量中国、巴西代表团进行了互访。自2023年1月卢拉总统开始第三任期以来,两国关系的发展一直备受关注。在这方面,我们仍有很多工作需要做,尤其是在增加两国人民的相互了解方面。
中国是发展中国家的典范,它取得了令人钦佩的成就,这是巴西学界、商界和政界都有的共识。中国开发出了世界上最快的“祖冲之号”量子计算机,它得名于一位生活在5世纪的中国数学家的名字。中国发射了全球首颗采用6G技术的卫星,其连接速度比5G快100倍。中国还发射了前往火星的“天问一号”,并于2021年5月将“祝融号”送上火星。2023年,中国GDP逼近18万亿美元大关,占世界总量的比重为16.9%。中国最伟大的成就是消除了国内的绝对贫困,中国目前人均GDP已超过1万美元。在国际贸易中,中国已成为世界货物贸易第一大出口国和第二大进口国。得益于中国在世界经济中的地位,人民币国际化已成为当今世界的热点话题之一。
有大量研究试图根据国际组织、政府和智库发布的经济数据来解释中国经济崛起的原因。但想要更仔细地了解中国的现实,就必须了解这个国家的治理方式。不仅要关注中国的制度如何发挥作用,还要考虑它的历史和中国人民的智慧如何在政治进程中产生影响。
13 nov 24
“From this perspective, I support the hypothesis that China is promoting a gradual shift from the “socialist system with Chinese characteristics” to “Chinese governance with socialist characteristics.” “Socialism” – insofar as the noun that can be referenced, in form and content, to the political theories and processes of the 20th century – becomes a qualifying adjective for what is intended to be China’s own and original governance model for the 21st century.”
Artigo publicado originalmente no Global Times no dia 11 de novembro de 2024.
China is an example of a developing country that has made remarkable achievements. Numerous studies have sought to understand and explain the reasons for China’s modernization based on economic data published by international organizations, governments and think tanks. However, these data are not sufficient to understand the country’s governance. China’s State Council once declared that China’s “historical heritage” and “cultural traditions” are the basis for the evolution of the Chinese political system. China’s system of governance promotes the reunion of what is considered the best of Chinese culture with the dream of revitalizing the nation set forth by the Communist Party of China. Without understanding this, it is impossible to understand China in the 21st century.
Governing China means governing 1.4 billion people. It is a world within a world, a Chinese world. There are aspects of China’s social and political dynamics whose explanation can be (and perhaps can only be) found within itself, in the original soil of its culture, and not outside it. This is an inescapable fact that explains many internal processes of social organization.
It is well known how Chinese wisdom, through the thinking of great Chinese philosophers and writers, influences China’s governance. The Chinese culture understands the role of the individual and society in the country’s development in a chain of relationships that expands in ever-widening circles, in the process of mutual influence, to promote social stability – or, if you prefer, peace.
In ancient times, people described the standard for governing the country as follows: “Cultivate oneself, put family in order, govern the state, and pacify the world.” Note that the individual is not thought of in isolation from the rest of society, nor is the stability of the world thought of without considering the relevance of the actions and responsibilities of each individual living in it. The development of a nation depends on each individual, and the development of each individual will depend on the collective well-being. In this chain of relationships that expands from the individual to wider circles, world peace will depend on well-governed nations, which in turn depend on orderly families, and these families depend on individuals who seek their self-cultivation. Leaders who lack such wisdom harm their country and can even lead the world into chaos.
10 nov 24
A Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) conta com a participação de 150 países. Como extensão natural da Rota da Seda Marítima do Século XXI, a China firmou memorando de entendimento com 22 países da América Latina e Caribe. Na América do Sul, somente Brasil, Colômbia e Paraguai não fazem parte desta Nova Rota da Seda. No caso do Paraguai, pela razão óbvia de não ter relações diplomáticas com a República Popular da China.
A dúvida sobre se o Brasil participará ou não da BRI ganhou destaque nestes dias que antecedem à vinda do Xi Jinping ao país para a reunião do G20 e sua visita de Estado em Brasília, seguida da ida dele e de Lula para a reunião de cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), no Peru. O Brasil estará lá como convidado. Até o momento, pelas entrevistas dadas pelas principais figuras políticas do governo Lula que estão na linha de frente das relações internacionais do país, o Brasil não assinará nenhum Memorando de Entendimento que expresse ser o mais novo participante da BRI.
A BRI não é uma zona de livre comércio e nem se baseia em um tratado multilateral. Trata-se de uma iniciativa da política externa chinesa negociada caso a caso com cada governo soberano e que tem nos investimentos em infraestrutura o seu eixo principal visando intensificar o comércio e o intercâmbio entre os povos dos países participantes. A abertura para a participação de países interessados e a flexibilidade nos termos desta participação é o atrativo da iniciativa. Este é o modo por meio do qual a China parece proteger a BRI de qualquer crítica que a considere um projeto unilateral visando a expansão de seu poder econômico globalmente. Convenhamos, a BRI é um projeto em processo contínuo de adaptação com uma proposta inicial transparente quanto aos métodos de negociação e de cooperação. Os 150 países que decidiram participar desta iniciativa viram vantagens na BRI, ao menos até o momento. Se tomarmos como referência os 193 Estados membros da ONU, quase 75% deles decidiram participar desta Nova Rota da Seda. Logo, indagamos: todos estes 150 países estariam optando por estar submetidos aos interesses da China? Evidente que não. Cada país tem as suas razões. Como também concordamos que os que não participam da BRI não estão se submetendo necessariamente aos interesses dos EUA. O assunto não é um fla-flu.
Dito isto, o que o Brasil quer da China com a “sinergia” entre a BRI e os programas do governo brasileiro de industrialização?
03 nov 24
Às vésperas do G20 e da vinda do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil, ganhou intensidade a discussão sobre se o governo Lula aceitará ou não incluir o Brasil como um dos países participantes da Iniciativa Cinturão e Rota (ICR), também referida como Nova Rota da Seda – carro-chefe da política externa chinesa lançada em 2013 que tem no investimento em infraestrutura dos atuais 150 países participantes a sua coluna vertebral.
Em entrevistas recentes, tanto a ex-presidenta Dilma Rousseff quanto o ex-Ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim – dois dos maiores quadros políticos do governo Lula para as relações internacionais – expressaram a opinião de que o Brasil deve aproveitar as oportunidades que a ICR pode oferecer para o PAC e outros programas de reindustrialização. Celso Amorim fala em “sinergias”. As declarações são receptivas aos investimentos chineses e ao incremento das parcerias com a China. O Brasil não repudia a ICR, mas tampouco sinaliza que irá assinar, por exemplo, um Memorando de Entendimento declarando ser participante da ICR.
Caberá ao governo brasileiro e à burocracia do MRE, qualificada para executar a política governamental para as relações internacionais, encontrar e negociar aquela frase ou expressão – a “terceira coisa”, diria Philip Allott – que nenhuma das partes envolvidas realmente quer, mas acabam aceitando. O objetivo, aqui, é fazer com que os chineses não “percam a face”. Diplomatas devem dominar a chamada “ambiguidade construtiva”. Entre o sim e o não está, muitas vezes, o lugar que preserva a coerência de uma ação posterior aparentemente contraditória com uma ação anterior.
Desde que foi lançada, a ICR encontrou resistências no Brasil. E é notória a enfática oposição dos EUA a este projeto chinês. Há quem defenda que o melhor lugar para se estar diante das circunstâncias internacionais atuais onde uma guerra mundial já está em curso na sua fase inicial, é em cima do muro. Getúlio Vargas fez isto com muita maestria. E ele não era tucano, vale a ressalva. E nem poderia ser, claro. Depois ele desceu do muro ao obter a indústria siderúrgica nacional. Porque uma coisa é estar em cima do muro de maneira construtiva e com uma estratégia em mente; outra é estar em cima do muro na esperança apenas de se esquivar de balas cruzadas porque os lados em conflito (no caso em questão, China e EUA) o perceberiam como “neutro”. É hora de discutir o que é estar “em cima do muro”. Entre Vargas e o estilo tucano pode haver outros equilíbrios e estratégias de ação. Qual é a do governo do Lula? Uma “terceira coisa”? A ver.
31 out 24
“Para entender a China de hoje, é necessário entender o Partido Comunista da China.”
O Diário do Povo Online lançou o programa “Entendendo a China”. Figuras políticas internacionais, acadêmicos chineses e estrangeiros mantiveram diálogos aprofundados, tentando interpretar uma China verdadeira, tridimensional e abrangente através de intercâmbios e comunicação a partir de diferentes perspectivas.
A modernização chinesa é a modernização que segue o caminho do desenvolvimento pacífico. Este episódio do programa “Endendendo a China” convida a pesquisadora chinesa He Wenping, diretora do Escritório de Estudos Africanos do Instituto de Estudos Asiáticos e Africanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, e brasileiro Evandro Carvalho, professor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas e professor associado da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense, a explorarem conjuntamente a importância da modernização chinesa para o desenvolvimento pacífico global.
Ambos os lados ponderam que a modernização chinesa não se baseia na pilhagem estrangeira, como o Ocidente. A China acredita no benefício mútuo e no ganha-ganha, em vez do jogo de soma zero. A modernização chinesa não é uma ameaça para o mundo, mas uma força para o desenvolvimento pacífico.
Assista ao programa clicando na imagem ou aqui!
Fonte: Diário do Povo Online Publicado em 28.10.2024
Link para a matéria original aqui: http://portuguese.people.com.cn/n3/2024/1028/c309810-20234796.html
24 ago 23
Entrevista que dei para a CGTN Español sobre a Cúpula do BRICS em agosto deste ano de 2023.
Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=4l4vlTFYfQs