Vivendo na China

24 ago 13

WeChat e a Praça (virtual) do Povo

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O que a Praça do Povo, no centro de Shanghai, tem em comum com o WeChat?

No coração de Shanghai, a Praça do Povo (人民广场 , em pinyin Rénmín Guǎngchǎng) é o espaço público central da cidade com várias lojas, museus, escritórios, restaurantes e cafés ao redor. Todos os domingos pela manhã acontece o “mercado do casamento”. Centenas de cartazes são expostos por pais à procura do parceiro ideal para o seu filho ou filha. Há, também, a possibilidade de o próprio interessado fazer, pessoalmente, a sua propaganda por lá. Diz-se que um anúncio custa mais de três dólares para ser exibido por cinco meses. Não me pareceu haver qualquer tipo de controle ou gerenciamento organizado destes anúncios quando por lá estive.

E o que o WeChat tem a ver com isto? O WeChat (Em chines: 微信. Em pinyin: Wēixìn,  literalmente, “micro mensagem”) é também um ambiente de encontro, só que virtual. Lançado em janeiro de 2011 pela Tencent, empresa cuja sede situa-se em Shenzhen, o WeChat é hoje o aplicativo de comunicação de mensagens de voz e texto via celular mais popular da China. Estima-se que possui mais de 400 milhões de usuários. São dois “Brasis”. E está revolucionando a forma dos jovens chineses fazerem amizades e, eventualmente, encontrarem a sua cara-metade. Basta dar um “shake” ou “look around” para localizar um alvo perto de você e enviar um simpático 你好吗? (“Ni Hao Ma?”). Mais discreto, simpático e instantâneo do que a Praça do Povo, o WeChat dá aos jovens o protagonismo na busca do parceiro sem a intermediação dos pais.

14 maio 13

Rule of law e o cotidiano chinês

SAM_2996_okO que o direito chinês tem em comum com Shanghai e outros grandes centros urbanos da China? É um grande canteiro de obras. E não se trata de uma obra aqui e outra acolá. São inúmeras as leis promulgadas para acompanhar as reformas econômicas que se aceleraram nas últimas duas décadas e que visam transformar a China em um Estado socialista de mercado baseado no rule of law.

As reformas legislativas em curso preparam a China para o futuro diante das responsabilidades que terá como um dos países líderes do mundo. A China sabe que, para ser competitiva, precisa ter um direito à altura do desafio. Em pouco mais de uma década aprovou importantes leis na área do meio ambiente, da concorrência, do mercado financeiro, das empresas e da propriedade intelectual. O estudo comparado encontra terreno fértil aqui na China. Os chineses estudam, copiam e aprimoram o que encontram de melhor no mercado mundial de normas jurídicas, adaptando-as à sua realidade e tendo em conta os seus interesses.

05 mar 13

CHINGLISH

O idioma chinês é um dos obstáculos principais a ser superado para quem chega na China e quer aqui se instalar. É certo que em Xangai, por ser a cidade mais cosmopolita, há alguma possibilidade de se viver falando apenas o inglês. Mas isto não é desejável para quem quer realmente conhecer e viver a China. Não ter algum domínio do mandarim inviabiliza outras experiências de lugares e convívios sociais, além de criar alguns embaraços. E são inúmeros.

IMG_0840Certo dia entrei em uma pequena e charmosa loja de roupa nas imediação da Nanjing Road e quis comprar um blusão de inverno. Nenhuma das vendedoras sabia falar inglês. Mas a compra foi realizada após muita pantomima. No processo de compra e venda, perguntou-se para quem era o blusão, onde se poderia prová-lo, se a loja aceitava cartão de crédito etc. As vendedoras falavam chinês e eu inglês! Eu poderia até mesmo falar português que o resultado final seria o mesmo: a compra do produto. O fato é que, para esta simples relação de compra e venda, a língua não foi obstáculo. Os gestos e os objetos foram suficientes para salvar a comunicação e fechar o negócio. Mas a falta de um idioma comum tornou tudo um pouco cômico e trágico.

18 fev 13

Por que ‘China’?

De repente o mundo dito ocidental descobre a China. É esta a impressão que temos quando vemos inúmeras notícias a respeito da influência chinesa na Ásia e o impacto de sua economia sobre o mercado mundial. Muitos agora voltam o seu olhar sobre o continente asiático e, em particular, sobre a China com o intuito de entender o que será do mundo nas próximas décadas. Bem ao gosto do capitalismo ocidental diríamos: “a China está na moda”. Mas esta seria, como toda moda, passageira? Em outras palavras, o modelo chinês de sociedade e de organização política e econômica será capaz de atrair o gosto de outros países? Mas este modelo chinês já não seria resultado de uma adaptação ao modelo ocidental capitalista dos países desenvolvidos? A China, assim, seria vítima ou agente neste mercado de ideias sobre como tornar-se um país próspero?

SAM_2681_okA China tem um história milenar. Mas o que faz com que muitos de nós desconheçamos quase tudo sobre a China e sua cultura? Por que anos de educação escolar omitem um lado da história mundial que acontece no continente asiático? É porque nada temos a aprender com a Ásia e os chineses? Claro que não. Se o Brasil pretende exercer algum protagonismo no cenário internacional, conhecer o mundo em toda a sua extensão é um requisito fundamental. E, para isto, é preciso pensar com autonomia e se abrir para o diálogo com outros povos e culturas. Esta troca de visões de mundo é a base de qualquer processo de inovação institucional. Estabelecer relações com quem acreditamos ser diferentes de nós é o primeiro passo para descobrirmos mais sobre nós mesmos.