Por que ‘China’?
De repente o mundo dito ocidental descobre a China. É esta a impressão que temos quando vemos inúmeras notícias a respeito da influência chinesa na Ásia e o impacto de sua economia sobre o mercado mundial. Muitos agora voltam o seu olhar sobre o continente asiático e, em particular, sobre a China com o intuito de entender o que será do mundo nas próximas décadas. Bem ao gosto do capitalismo ocidental diríamos: “a China está na moda”. Mas esta seria, como toda moda, passageira? Em outras palavras, o modelo chinês de sociedade e de organização política e econômica será capaz de atrair o gosto de outros países? Mas este modelo chinês já não seria resultado de uma adaptação ao modelo ocidental capitalista dos países desenvolvidos? A China, assim, seria vítima ou agente neste mercado de ideias sobre como tornar-se um país próspero?
A China tem um história milenar. Mas o que faz com que muitos de nós desconheçamos quase tudo sobre a China e sua cultura? Por que anos de educação escolar omitem um lado da história mundial que acontece no continente asiático? É porque nada temos a aprender com a Ásia e os chineses? Claro que não. Se o Brasil pretende exercer algum protagonismo no cenário internacional, conhecer o mundo em toda a sua extensão é um requisito fundamental. E, para isto, é preciso pensar com autonomia e se abrir para o diálogo com outros povos e culturas. Esta troca de visões de mundo é a base de qualquer processo de inovação institucional. Estabelecer relações com quem acreditamos ser diferentes de nós é o primeiro passo para descobrirmos mais sobre nós mesmos.
Fica a pergunta: no que a China difere de nós brasileiros? Esta pergunta conduz-nos inevitavelmente ao outro lado da questão: àquilo que nos é semelhante. Afinal, as diferenças se estabelecem no contraste com o que nos é ou parece ser comum.
E por que “China”?
Em primeiro lugar, porque considero fundamental que, cada vez mais, tenhamos brasileiros sistematizando conhecimento sobre os diversos países do mundo a partir de uma experiência local. A nossa tradição acadêmica privilegia os EUA e países europeus. Está na hora de termos mais estudantes de graduação, mestrado e doutorado nos demais países e continentes do mundo. Se eu não tivesse vindo para Xangai, teria escolhido algum país árabe, certamente. Em tempos de internet e bases de dados acessíveis em qualquer lugar, o que precisamos não é mais estar perto de uma boa biblioteca, mas em contato direto com outros povos e confiar na nossa capacidade de percepção e criação de novos saberes. Em segundo lugar, levei em conta meus estudos anteriores na área do comércio internacional. E, neste quesito, eu não podia desconsiderar o fato de que a China tornou-se a maior potência comercial do mundo (a soma de exportações e importações de bens totalizou US$ 3,87 trilhões), ultrapassando os EUA cuja economia ainda é o dobro da chinesa – provavelmente não por muito tempo. Além disso, a China também tornou-se o parceiro comercial mais importante para o Brasil e, segundo projeções da PricewaterhouseCoopers, os dois países, juntamente com a Índia, serão responsáveis por 48% da expansão econômica do mundo, superando os EUA e a zona do euro. E, finalmente, fui selecionado pelo governo chinês para participar do OAS-China Scholarship Program como Senior Scholar na Shanghai University of Finance and Economics (SUFE) por um período de um ano e meio.
O blog visa compartilhar a minha percepção sobre a China atual a partir de uma vivência local no contato direto com os chineses e com os temas que dominam a agenda do governo chinês tendo em vista os nossos interesses, ou seja, os interesses tanto do governo brasileiro quanto dos brasileiros que querem estabelecer um contato com a China. Ele terá três seções principais. São elas: 1) Relação Brasil-China, dedicado às relações bilaterais e aos desafios destes dois países na política mundial; 2) Direito chinês, visando traduzir e explicar aspectos da cultura jurídica chinesa, suas normas e instituições, e 3) Vivendo na China, onde contarei as minhas experiências pessoais no cotidiano em Xangai. Esta última seção é interessante também para todos aqueles que pretendem conhecer um pouco mais a China e visitá-la algum dia.
Este blog conta com o apoio da FGV Direito Rio, instituição onde sou professor licenciado de direito global e onde fui Coordenador (2007-2012) e Vice-Diretor da graduação (2010-2011), e também com o apoio da Consultor Jurídico (www.conjur.com.br) onde o blog terá o privilégio de ser parceiro desta importante revista eletrônica. Meu agradecimento ao na pessoa do seu diretor de redação Maurício Cardoso por topar este desafio. Espero que este blog seja bastante útil para todos aqueles que estudam ou pretendem estudar a China e na China. Sugestões serão sempre muito bem-vindas!”
Tags: Ásia, Brasil, china, China Scholarship Program, cultura, influência, moda, mundo ocidental, Shanghai University of Finance and Economics, SUFE, Xangai
4 Comentários
Parabéns Evandro por toda essa iniciativa pioneira de integração entre o Brasil e a China. Fico orgulhoso por ter sido seu aluno ed DIP na FIR. Muito sucesso.
Grande Abraço.
Att,
GF.
Obrigado por suas palavras, Grimauro! Temos muito o que descobrir sobre a China da mesma forma que os chineses sabem muito pouco sobre o Brasil. Espero que o blog seja uma pequena contribuição para nós, brasileiros, que queremos ter uma visão mais diversificada e menos politicamente estereotipada da China. Grande abraço. EMC.
Oi Evandro, meu filho cursa o segundo semestre de engenharia civil na ufpel, ele participa do jovens talentos cientista e agora vai tentar p ciencias sem fronteiras para a china.Estou preocupada outra cultura, desatres naturais.
O que vc acha?
Obrigada e um forte abraço
Oi Marcia, posso falar da minha experiência pessoal aqui em Xangai. Recebi uma bolsa do governo chinês para desenvolver pesquisas aqui na Shanghai University of Finance and Economics. A receptividade foi muito boa. A Universidade estava preparada para receber todos os estrangeiros e dá o suporte necessário. Xangai é uma cidade moderna, com um bom sistema de transporte público e com várias opções de restaurantes. Os chineses são atenciosos. As diferenças culturais que seu filho poderá experimentar fará parte da própria experiência de vida dele. E esta é a ideia central de uma decisão de vir para a China. Quando você tiver informações mais detalhadas sobre a vinda dele (cidade, universidade, tipo de bolsa etc.) pode me escrever que ajudarei com prazer naquilo que for possível. Abraço. EMC.