26 mar 16

China prepara seu futuro em meio à crise mundial

AIIBA mídia ocidental começou o ano de 2016 dando destaque a duas notícias referentes à China: a primeira relativa à queda da bolsa de Xangai e a segunda sobre o crescimento de 6,9% do PIB chinês. Alguns jornais sublinharamo fato de que o ano de 2015 teria apresentado o “pior resultado em 25 anos”. Para quem não acompanha as reformas econômicas e sociais na China, bem como a sua política externa, estas notícias parecem soar como o início de um novo caos generalizado na economia mundial. Mas não deveria surpreender ninguém pois nem o governo chinês foi pego de surpresa. Quando a Assembleia Nacional Popular da China, órgão legislativo máximo do país, aprovou o 12o Plano Quinquenal em março de 2011, já se sabia que teriam que trabalhar com a perspectiva de um crescimento econômico médio de 7% até 2015. E foi o que ocorreu. A mídia ocidental faz alarde de um fato que o próprio governo chinês já sabia há cinco anos atrás e se planejou para isto.

Ademais, vale lembrar, não há nova crise pois vivemos ainda sob os efeitos daquela iniciada em 2008 nos EUA. Para o Brasil, o que era tido como uma marolinha tornou-se um tsunami no ano passado. As ondas da crise também alcançaram a Ásia. Mas, do outro lado do mundo, a China mantém o controle do seu navio. E mais do que isto: está construindo pontes para o seu futuro no pós-crise. Vejamos algumas destas pontes.

Em janeiro deste ano foi inaugurado o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura  (AIIB, na sigla em inglês) que conta com 57 países membros, incluindo – a despeito da oposição dos EUA – a Austrália, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Filipinas, Coreia do Sul, Israel e o Brasil, sendo o nosso país o único das três Américas. “Um momento histórico”, disse o Presidente Xi Jinping. E com razão. Proposto por ele em outubro de 2013 para financiar os projetos de infraestrutura para a interconexão econômica da Ásia, o AIIB, com capital autorizado de US$100 bilhões, é um marco na reforma do sistema de governança econômica global. Afinal, o AIIB é uma resposta chinesa à paralisia das reformas do FMI e do Banco Mundial – instituições criadas em 1944 e que estruturam a ordem financeira global dominada pelos Estados Unidos.

Outro projeto chinês que constrói uma ponte para o futuro é aquele que ficou conhecido, na expressão em inglês, como “One Belt and One Road” (OBOR). A sigla refere-se a dois grandes projetos de infraestrutura para o desenvolvimento da Ásia: o Cinturão Econômico da Rota da Seda e a Rota Marítima da Seda para o Século XXI. O cinturão econômico reavivará a antiga Roda da Seda que ligava a China à Europa e que data de mais de 2.000 anos atrás. O atual projeto compreenderá mais de 50 países e poderá beneficiar mais de 3.8 bilhões de pessoas, conectando a China ao Sul e Sudeste da Ásia, Ásia Central, Europa e África. Mais do que uma obra de infraestrutura, é uma magnífica obra de arquitetura política e econômica global. Este projeto tem um grande potencial para remodelar a ordem internacional, é o símbolo máximo do renascimento da China neste século XXI e possivelmente será a iniciativa que marcará a era Xi Jinping.

O prêmio Nobel Joseph Stiglitz afirmou recentemente que o pessimismo em relação à China é exagerado e que a desaceleração da economia chinesa não é catastrófica. O Goldman Sachs, apesar de prever um decréscimo na economia chinesa ainda este ano, admite que os números chineses não são tão ruins se comparados a outros países. Ademais, nem tudo é negativo: a produção industrial da China subiu 6,1% em 2015, e , apesar da desaceleração da construção civil, as vendas de casas aumentaram 16,6% graças às políticas de estímulo do governo central. Em valores, o PIB chinês somou US$ 10,3 trilhões em 2015. O setor de serviços respondeu por metade do crescimento chinês. E será o setor que continuará expandindo e gerando novas oportunidades de negócios. Por fim, em 2015, as ações chinesas tiveram uma alta de 9.4%, superando Wall Street. A instabilidade da bolsa de Xangai neste início de ano de 2016 produziu um excessivo pânico, dizem analistas.

O mundo parece depositar esperanças na capacidade da China de superar a crise e, por consequência, ajudar o mundo a sair da crise. Esta fase da economia tem sido chamada de “novo normal”, isto é, um período de modesta expansão econômica mas que, para alguns, aponta para uma ruptura estrutural. Sendo assim, preparar-se para uma nova realidade é essencial. E é o que a China está fazendo. Passado os efeitos do maremoto da crise econômica mundial, a China terá construído as bases para um novo ciclo de desenvolvimento muito acima das expectativas dos pessimistas de plantão.

(Artigo originalmente publicado no número 5 da revista China Hoje).

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