12 jan 19

A nova era da sabedoria e do método do socialismo chinês

 

Presidente chinês Xi Jinping.

No 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh), que se realizou em outubro de 2017, o Presidente Xi Jinping anunciou um “socialismo com características chinesas para uma nova era”. Este conceito foi inserido na Constituição do país após aprovação da primeira sessão da 13ª Assembleia Nacional Popular, realizada em março de 2018. A expressão abrange um conjunto de ideias orientadoras para a governança da China.

Falar em uma “nova era” pressupõe o fim de outra. Entretanto, qual era se finda? Aquela iniciada por Deng Xiaoping com a política de reforma e abertura? Ou aquela iniciada por Mao Zedong com a fundação da República Popular da China? Ou poderíamos dizer que a “antiga era” compreende um espaço de tempo mais amplo que tem o seu início com as invasões estrangeiras durante o período da dinastia Qing no século XIX e que fizeram a China perder o posto de maior economia do mundo?

Sob o ponto de vista de um observador estrangeiro, eu gostaria de sublinhar quatro aspectos que me parecem ser “pontos de referência” importantes no contexto dos discursos proferidos por Xi Jinping que podem nos ajudar a entender o significado e a relevância desta nova era do socialismo chinês.

O primeiro deles é que a referida expressão é um desdobramento do “sonho chinês” – termo que inaugurou o primeiro mandato de Xi Jinping à frente da secretaria geral do PCCh no final de 2012. Dentre os significados deste “sonho chinês” está aquele de rejuvenescimento da nação e a construção de um “grande país socialista moderno” por volta de 2050. A nova era consiste, portanto, na etapa da história contemporânea chinesa em que o sonho deve ganhar materialidade e transformar a realidade da nação.

O segundo aspecto é a consolidação da soberania chinesa e a afirmação do país como a maior potência asiática. Ficaram para trás as humilhações a que foram submetidos os chineses no século XIX em decorrência das inúmeras invasões estrangeiras e das Guerras do Ópio, bem como as lutas internas que tanto marcaram a primeira metade do século XX e que ameaçaram a própria soberania popular chinesa. Como declarou Xi Jinping, a nação chinesa “levantou-se, cresceu e tornou-se forte; e agora abraça as brilhantes perspectivas de rejuvenescimento”.

Em terceiro lugar, a nova era tende a ter seus efeitos estendidos para o mundo. Muitos analistas internacionais admitem que a China será a maior potência econômica antes de 2050. Esta é uma tendência assumida abertamente pelo governo chinês. “Será uma era que vê a China se aproximando do centro do palco e fazendo maiores contribuições para a humanidade”, declarou Xi em seu discurso no 19º Congresso Nacional do PCCh. Mas estar no “centro do palco” exige responsabilidades para garantir a preservação de uma certa ordem internacional. É por esta razão que, para ajudar a “resolver os problemas que enfrenta a humanidade”, Xi Jinping oferece ao mundo a “sabedoria chinesa” e a “abordagem chinesa”. Estas são expressões-chave para termos acesso a dimensões fundamentais do chamado “socialismo com características chinesas”. A sabedoria chinesa tem séculos de acúmulo intelectual e prática social, e o modo como os chineses lidam com os problemas e buscam soluções – isto é, a abordagem chinesa para os desafios da vida – nem sempre são semelhantes àqueles adotados pelos ocidentais. Compreender isto é essencial para entender o futuro da diplomacia chinesa para o mundo.

Sobre este último aspecto, é importante sublinhar o conceito de “comunidade de destino comum para a humanidade”, elaborado pelo presidente Xi e também incorporado à Constituição chinesa. Este conceito vinha sendo gradualmente cristalizado por ele desde 2013. Mas é no discurso feito na abertura do evento que reuniu o PCCh e partidos políticos do mundo inteiro, em dezembro de 2017, que ele descreve quatro imagens que, no meu entendimento, revelam quatro diretrizes de política externa a serem observados pelo governo chinês. São elas: “um mundo seguro e livre do medo”, proposição que nos remete à agenda da segurança internacional; “um mundo próspero e livre da pobreza”, sentença que assume o compromisso contra a desigualdade social, a fome e à miséria; “um mundo aberto, inclusivo e livre do isolamento”, em defesa do multilateralismo e do livre comércio e, por fim, “um mundo ambientalmente limpo e bonito”, assegurando o comprometimento chinês com a proteção do meio ambiente.

Se, há 40 anos, a política de “reforma” e “abertura” foi iniciada para retirar a China do seu atraso econômico e fazê-la ser aceita pelo mundo, atualmente, a China de Xi se vê como um inevitável protagonista dos rumos da humanidade e pretende exercer a sua liderança com a sabedoria e o método chineses. A nova era do socialismo chinês não deixa de ser, desde este ponto de vista, uma nova era também para a história mundial.

 

*Artigo de minha autoria originalmente publicado na revista China Hoje (n. 17, fev./mar., 2018, pp. 14-15), mas atualizado aqui no blog.

 

 

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