Partido, Estado e Corrupção na China
O julgamento de Bo Xilai, 64 anos, foi um evento jurídico e midiático na China neste final de verão. Os jornais publicavam diariamente relatos do julgamento e o microblog oficial do Tribunal divulgava on time as transcrições do processo. Um fato inédito. Trata-se de um dos mais importantes casos jurídicos desde 1978. Bo Xilai não é um personagem qualquer da cena política chinesa. Ele foi Chefe do Partido em Chongqing e membro do poderoso Comitê Central do Bureau Político do Partido Comunista. Agora é uma carta fora do baralho.
Bo é acusado de suborno, peculato e abuso de poder numa trama que envolve, segundo a imprensa, 25 milhões de yuan (USD 4.1 milhões). A esposa dele, Bogu Kailai, não é mera coadjuvante na história. Além de ter participado de esquemas envolvendo desvio de dinheiro, Bogu Kailai foi condenada à morte por ter assassinado o britânico Neil Heywood em novembro de 2011. A execução da sentença está, no momento, suspensa. Bo Xilai alega que ela teria escondido dele todos estes fatos e o traído com Wang Lijun, o ex-vice-prefeito e chefe de polícia de Chongqing. Wang, 53 anos, também foi condenado em setembro de 2012 por abuso de poder, corrupção passiva e deserção por ter tentado escapar da Justiça chinesa ao fugir para o Consulado Geral dos EUA, em Chengdu. Os ingredientes desta trama são um prato cheio para um roteiro policial que tem seu grand finale no tribunal. Na história real, é o Tribunal Popular Intermediário de Jinan, na província de Shandong.
Tive a oportunidade de conhecer o Tribunal Intermediário de Shanghai. A sala de audiência para os julgamentos de grande apelo popular é imensa e mais parece um auditório de teatro. Há, ainda, salas de audiência menores. Aquela reservada para os casos criminais tem as paredes e seus móveis em tons escuros. Já nas salas reservadas para os casos cíveis predomina um tom mais claro. O funcionário do Tribunal que nos acompanhava chamou-nos a atenção para este importante detalhe. É proposital. O tom da cor segue a gravidade da suposta ilegalidade cometida pelo réu. Feng shui até no Tribunal. No caso Bo Xilai, a coisa está muito preta. Em duas semanas deverá ser divulgada a decisão final.