08 dez 13

Jango na China de ontem e no Brasil de hoje

Jango.China

Sexta-feira passada (06/12/13), trinta e sete anos depois de sua morte, o ex-Presidente João Goulart foi enterrado com honras de Chefe de Estado no município de São Borja, no Rio Grande do Sul, local onde nasceu. Seu corpo havia sido exumado no dia 13 de novembro passado a pedido da Comissão Nacional da Verdade que investiga as causas da morte dele. Quer-se esclarecer se o ex-Presidente morreu de um ataque cardíaco (tal como oficialmente registrado) ou se teria sido assassinado pela ditadura militar na chamada Operação Condor. Este importante fato – que mereceu pouca atenção da grande mídia brasileira – fez-me relembrar um importante momento da história política de nosso país.

Agosto de 1961. João Goulart, então vice-presidente do Brasil, encontrava-se na China na primeira missão diplomática oficial de um representante brasileiro a este país. Diante das autoridades chinesas, proferiu o seguinte discurso:

24 nov 13

O sonho chinês e o mundo

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Recentemente, o Departamento Internacional do Comitê Central do Partido Comunista Chinês (PCCh) convidou seis think tanks sul-americanos para discutir a viabilidade de uma zona de livre comércio entre a China e os países latino-americanos. Integrei a delegação como representante da FGV e me coube falar das perspectivas de um acordo de livre comércio entre China e Mercosul. Foram várias reuniões e visitas técnicas que ocorreram nas cidades de Pequim, Nanning, Beihai e Shanghai. Tudo custeado pelo governo chinês. O tema da palestra de abertura dos trabalhos foi “o sonho chinês e o mundo”, proferida pelo subdiretor do escritório de investigação do Departamento Internacional do Comitê Central do PCCh, Sr. Luan Jianzhang.

A relação com a América Latina é estratégica para a China. Em 2010 os chineses investiram US$ 11 bilhões na região – 24% a mais do que os US$ 8.9 bilhões investidos em 2009. A América Latina é, hoje, o segundo maior receptor de investimentos chineses, depois do continente asiático. E o Brasil é o principal destino destes investimentos, seguido por Peru, Argentina e Chile. No âmbito do comércio exterior, as exportações da América Latina e do Caribe para a China no período de 2006 a 2010 tiveram uma taxa de crescimento anual de quase 34%, passando de US$ 22.6 bilhões para US$ 72 bilhões. A China tornou-se o terceiro mais importante parceiro comercial da América Latina, e, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), será o seu segundo maior parceiro comercial em 2014. O sonho chinês se cruza com o sonho latino-americano (seja ele qual for) e tem o Brasil como um dos seus personagens centrais.

28 set 13

Xangai: primeira cidade-livre da China?

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O restaurante é de comida típica mexicana. Chama-se Togo Taco. Na TV localizada atrás do balcão vejo o seriado “The Big Band Theory”. Na parede próxima à mesa onde estou sentado, uma foto de Marilyn Monroe e outra do Che Guevara. Várias pessoas ao meu redor falando inglês. Não, não estou em algum país americano mas, sim, na China de Xangai. O restaurante localiza-se na charmosa Rua da Universidade (Daxue Lu), no distrito de Yangpu. Este distrito (que poderia ser equivalente ao nosso conceito de “bairro”) já acolheu muitas indústrias no passado. Hoje, é conhecido como o distrito do conhecimento e da inovação em razão da concentração de universidades – dentre as quais a Universidade Fudan e a Universidade de Xangai de Finanças e Economia – e de empresas de tecnologia tais como IBM, Oracle e EMC2. Uma área nova, moderna e com muitos estudantes e profissionais estrangeiros. Há dez anos atrás, um cenário improvável.

Xangai não é a China mas é uma parte importante dela que aponta para o que pode vir a ser este país no futuro.

03 set 13

Partido, Estado e Corrupção na China

O julgamento de Bo Xilai, 64 anos, foi um evento jurídico e midiático na China neste final de verão. Os jornais publicavam diariamente relatos do julgamento e o microblog oficial do Tribunal divulgava on time as transcrições do processo. Um fato inédito. Trata-se de um dos mais importantes casos jurídicos desde 1978. Bo Xilai não é um personagem qualquer da cena política chinesa. Ele foi Chefe do Partido em Chongqing e membro do poderoso Comitê Central do Bureau Político do Partido Comunista. Agora é uma carta fora do baralho.

Bo é acusado de suborno, peculato e abuso de poder numa trama que envolve, segundo a imprensa, 25 milhões de yuan (USD 4.1 milhões). A esposa dele, Bogu Kailai, não é mera coadjuvante na história. Além de ter participado de esquemas envolvendo desvio de dinheiro, Bogu Kailai foi condenada à morte por ter assassinado o britânico Neil Heywood em novembro de 2011. A execução da sentença está, no momento, suspensa. Bo Xilai alega que ela teria escondido dele todos estes fatos e o traído com Wang Lijun, o ex-vice-prefeito e chefe de polícia de Chongqing. Wang, 53 anos, também foi condenado em setembro de 2012 por abuso de poder, corrupção passiva e deserção por ter tentado escapar da Justiça chinesa ao fugir para o Consulado Geral dos EUA, em Chengdu. Os ingredientes desta trama são um prato cheio para um roteiro policial que tem seu grand finale no tribunal. Na história real, é o Tribunal Popular Intermediário de Jinan, na província de Shandong.

Tive a oportunidade de conhecer o Tribunal Intermediário de Shanghai. A sala de audiência para os julgamentos de grande apelo popular é imensa e mais parece um auditório de teatro. Há, ainda, salas de audiência menores. Aquela reservada para os casos criminais tem as paredes e seus móveis em tons escuros. Já nas salas reservadas para os casos cíveis predomina um tom mais claro. O funcionário do Tribunal que nos acompanhava chamou-nos a atenção para este importante detalhe. É proposital. O tom da cor segue a gravidade da suposta ilegalidade cometida pelo réu. Feng shui até no Tribunal. No caso Bo Xilai, a coisa está muito preta. Em duas semanas deverá ser divulgada a decisão final.

24 ago 13

WeChat e a Praça (virtual) do Povo

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O que a Praça do Povo, no centro de Shanghai, tem em comum com o WeChat?

No coração de Shanghai, a Praça do Povo (人民广场 , em pinyin Rénmín Guǎngchǎng) é o espaço público central da cidade com várias lojas, museus, escritórios, restaurantes e cafés ao redor. Todos os domingos pela manhã acontece o “mercado do casamento”. Centenas de cartazes são expostos por pais à procura do parceiro ideal para o seu filho ou filha. Há, também, a possibilidade de o próprio interessado fazer, pessoalmente, a sua propaganda por lá. Diz-se que um anúncio custa mais de três dólares para ser exibido por cinco meses. Não me pareceu haver qualquer tipo de controle ou gerenciamento organizado destes anúncios quando por lá estive.

E o que o WeChat tem a ver com isto? O WeChat (Em chines: 微信. Em pinyin: Wēixìn,  literalmente, “micro mensagem”) é também um ambiente de encontro, só que virtual. Lançado em janeiro de 2011 pela Tencent, empresa cuja sede situa-se em Shenzhen, o WeChat é hoje o aplicativo de comunicação de mensagens de voz e texto via celular mais popular da China. Estima-se que possui mais de 400 milhões de usuários. São dois “Brasis”. E está revolucionando a forma dos jovens chineses fazerem amizades e, eventualmente, encontrarem a sua cara-metade. Basta dar um “shake” ou “look around” para localizar um alvo perto de você e enviar um simpático 你好吗? (“Ni Hao Ma?”). Mais discreto, simpático e instantâneo do que a Praça do Povo, o WeChat dá aos jovens o protagonismo na busca do parceiro sem a intermediação dos pais.

16 ago 13

Citação – Bao Dike

“O mercado imobiliário criou a maior parte da classe média, e o setor imobiliário produziu o maior grupo de pessoas ricas na China”. Bao Dike, editor sênior da PKU Business Review, sobre um relatório que afirma que 15 por cento dos multimilionários na China são especuladores imobiliários.

12 ago 13

Citação – Zhang Yiwu

“Os caracteres chineses são ideogramas e carregam a essência da cultura chinesa. A caligrafia é uma importante forma de tocar essa essência. Como resultado, devemos escrevê-los e senti-los”. Zhang Yiwu, professor de literatura chinesa da Universidade de Beijing.

27 jul 13

Citação – Li Xiaodong

“Nós não vamos seguir o que o Ocidente vem fazendo porque os problemas que enfrentamos são diferentes. E quando você encontra a resposta certa para o seu próprio problema, você tem o seu próprio estilo”. Li Xiaodong – arquiteto ganhador de vários prêmios internacionais.

26 jun 13

Citação – Ren Zhiqiang

“Por que nós temos que, todo tempo, estudar os discursos das autoridades ao invés da lei?” Ren Zhiqiang, Presidente da estatal Hua Yuan Real Estate Group, sobre a urgência de tornar a governança chinesa baseada no Estado de direito (rule of law) e não na lei do homem (rule of man).

11 jun 13

Citação – Chas Freeman

“A introdução do capitalismo foi necessária para salvar a China, mas o capitalismo já não pode prescindir da China. A China é essencial para a economia global; ela não pode ser isolada ou contida”. Chas Freeman, embaixador estadunidense aposentado.