Estratégia do Brasil de se aliar aos EUA em detrimento da China é um erro

nov 10, 2019

Este foi o título da matéria publicada no jornal Valor Econômico a uma entrevista que dei para a jornalista Beth Koike, em outubro deste ano de 2019, em Hong Kong. Estávamos com a delegação da Associação Brasileira dos Mantenedores de Ensino Superior (ABMES) que faziam um tour pelas universidades chinesas. Abaixo, reproduzo o texto da matéria. Mas gostaria de ressaltar o sentido preciso do título acima. O Presidente da República conduz a política externa e, não raro, tem os países estrangeiros de preferência por razões diversas. O alinhamento é, contudo, uma opção por uma aliança onde o interesse nacional pode se confundir com o interesse do outro país com que se está alinhado. O risco desta postura diplomática é a tomada de decisão à revelia dos interesses brasileiros. Com a ressalva do lado danoso deste e de qualquer governo de se alinhar a um país, ter preferência pelos EUA não precisa significar a rejeição àquele outro com quem os EUA está travando uma guerra comercial e tecnológica. A China é, do ponto de vista comercial e dos investimentos, mais importante para o Brasil do que os EUA. A matéria foi publicada antes da visita do presidente Jair Bolsonaro à China. Sobre esta visita, espero publicar outro post.

Abaixo, o teor da matéria do Valor Econômico publicado em 27/10/19. Quem quiser acessar a matéria direto do jornal, clique aqui.

“Estratégia do Brasil de se aliar aos EUA em detrimento da China é um erro, diz especialista
“É um tiro no pé”, afirma o consultor Evandro Menezes de Carvalho, consultor especializado em China e professor da FGV-Rio
A estratégia do governo Jair Bolsonaro de se alinhar a Donaldo Trump, dos Estados Unidos, em detrimento da China, é um equívoco e prejudicial para o Brasil que tem o país asiático como seu maior parceiro comercial, na opinião de Evandro Menezes de Carvalho, consultor especializado em China e professor da FGV-Rio, que já morou por três anos na segunda maior economia global e que visita o país pelo menos quatro vezes ao ano.

“Esse discurso de relativa hostilidade com a China é um tiro no pé e um desconhecimento da história porque quem restabeleceu relações diplomáticas com a China foi o governo militar em 1974. A China tem expectativa de que pelo menos o Brasil estabeleça uma relação diplomática sem que esses arroubos ideológicos do lado brasileiro influenciem a relação bilateral”, afirmou o especialista da FGV-Rio.
Na visão dele, a China tinha duas expectativas em relação à viagem do presidente Jair Bolsonaro e da comitiva brasileira realizada na semana passada. Segundo Carvalho, o governo de Xi Jinping deve buscar imparcialidade do governo brasileiro em relação ao 5G e aos conflitos entre EUA e Huawei. Outra pauta é a adesão do Brasil ao projeto Cinturão e Rota, iniciativa de cooperação internacional envolvendo Europa, América, Ásia e África que tem como principal oponente os Estados Unidos.
Após encontro com Xi na sexta-feira, Bolsonaro disse não ter tratado do tema da Huawei com o líder chinês. Sobre o Cinturão e Rota, o tema foi citado por diversas autoridades chinesas, mas só foi mencionado pelo governo brasileiro na declaração conjunta dos dois presidentes.
Do lado brasileiro, a demanda é por atrair investidores chineses e uma diversificação dos produtos exportados, uma vez que atualmente o Brasil praticamente só vende commodities. No ano passado, durante campanha, Bolsonaro chegou a dizer que a China não compra do Brasil e sim está comprando o Brasil.
“O Brasil quer que a China compre mais produtos com valor agregado porque praticamente 90% do que vendemos é soja, óleo e minério. Mas o que o Brasil tem de oferta de tecnologia, com bom preço e qualidade? Nada. Então, o problema não é a China, e sim o Brasil, que não está fazendo a lição de casa. Inclusive, a China está chegando atrasada porque quem comprou o Brasil foram outros países”, disse Carvalho.
Para consultor, é um erro manter um discurso hostil devido ao alinhamento com os EUA porque a China é o único país, neste século XXI, que tem apresentado uma proposta nova em relação a desenvolvimento econômico e projeto de multilateralismo, fazendo referência ao projeto Cinturão e Rota.
“A gente entrou no século XXI achando que ia ser o século americano, sem Guerra Fria, mas veio a queda das Torres Gêmeas e os EUA entraram com uma agenda muito forte de segurança que, por sua vez, promoveu também uma espécie de sacrifício da liberdade em prol da segurança. Em 2008, teve a crise econômica em que o epicentro foram os EUA. As organizações internacionais do século XX estão em crise: União Europeia, com o Brexit, a OMC com Trump ameaçando sair várias vezes, a ONU e sua dificuldade de evitar conflitos. Esse é o contexto: crise, xenofobia, esses países não conseguiram criar nada de novo e não estão conseguindo lidar com os problemas e a China vem com uma capacidade de iniciativa de política externa muito grande’, disse.”
Obs.: a foto publicada neste post foi retirada do link: https://veja.abril.com.br/politica/bolsonaro-a-trump-brasil-mais-engajado-com-nossos-eua/
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